Hoje foi a primeira vez que consegui visitar-te.
Perdi-me no caminho (nada de novo) e voltei a trás para pedir direcções.
Quando te encontrei, não consegui evitar, as lágrimas aos olhos vieram parar.
Estavas ali, num quadradinho de fotos de memórias antigas que não consigo associar. Cabelo escuro e olhos azuis. Já não me lembro do cabelo escuro, só do branco com uma boína no topo quando saías para passear.
Estava tudo tão calmo, tão novo, tão calado... tão fraude, tão desiludido, tão MORTO.
Avô, porque foste assim tão depressa? A casa está tão vazia e tão desorganizada sem ti!
Vejo as tuas fotos e o teu nome em todo lado: no cartão de reformado, no cartão de utente, na certidão de obito.
Quando te vi pela última vez, parecia que já não estavas lá. A pele era fria, os olhos eram fechados, a respiração era fraca e o coração tentava adormecer.
Como me podes perdoar?
Eu não te visitei tanto como, verdadeiramente, quis!
Conheces bem a tua filha: inerva tanto que não dá vontade de ir a lado algum com ela e... por isso, não fui. Agora parece tão futil! Como consegui eu que alguém me inerva-se tanto ao ponto de não te visitar tanto?
Que triste, amarga, egoísta atitude que tive.
Agora estou pesada. Pesada de culpa de não ter melhorado e acalorado os teus últimos dias.
A minha cabeça sabe e diz: " Ele morreu. Já aconteceu. Já não volta mais", mas quando se olha para: a sala, a cozinha, a garagem, o quintal, a pequena cadeira, os alicates, os livros, a máquina fotografica, pensa-se sempre que ainda ali estás... até confrontarmos a fonte, o fundo da realidade. Hoje, fui lá (conferir a verdade).
Achei que era valente ao ponto de não chorar. Que grande engano meu. QUE GRANDE ENGANO MEU!
Acendi uma vela, pus um ramo e escrevi-te num papel:
"eu estou a tentar
mas ainda não consegui.
descansa em paz
Inês"
"1a flor para chamar o Sol"
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)